quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Estudando a Concentração

ESTUDANDO A CONCENTRAÇÃO

1. A Faculdade da Atenção


Atenção pode ser entendida como uma atitude psicológica através da qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre um estímulo específico, seja este estímulo uma sensação, uma percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de elaborar os conceitos e o raciocínio. Portanto, de modo geral a Atenção parece criar a própria consciência.
Segundo o livro “Psiquiatria e Mediunismo” de Leopoldo Balduino, é de fundamental importância para a aquisição dos estados mais elevados de consciência e para as altas produções artísticas, intelectuais ou mesmo para os fenômenos mediúnicos é a atenção.
Através da atenção a mente concentra a sua atividade psíquica sobre o objeto, seja esse uma sensação, percepção, afeto, desejo, etc. Muitos autores não a consideram uma atividade psíquica independente, ou seja, ela é determinada pelo interesse, pela motivação, pela firme vontade, pela decisão que se toma consciente.
A atenção, a concentração, a consciência, a distração e a subconsciência estão intimamente ligadas. Sem a atenção a atividade mental se processaria como num sonho vago e difuso, sem atenção em único objetivo não há concentração.
Até nos sonhos a atenção pode operar, e difíceis problemas podem ser resolvidas durante a atividade onírica, pois são alguns sonhos, atividade do espírito emancipado da carne, atuando no plano espiritual.
A consciência pode ser comparada, fazendo uma analogia didática, como um alvo de tiro, segundo Willian James, médico e psicólogo americano, o centro desse alvo corresponde ao grau máximo de consciência, onde a atenção está mais concentrada, é denominada foco da consciência. Em geral, considera – se o número passível de objetos de serem focalizados pelo foco da consciência, como sendo igual a quatro.
A Atenção da pessoa, num determinado momento pode estar distribuída de várias maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada num único objeto, dando-se pouca Atenção ao resto, pode estar difusamente espalhada, sem que uma parte específica esteja predominantemente em foco ou, por fim, pode estar dividida entre vários objetos, quando então a pessoa procura prestar Atenção, simultaneamente, a duas ou mais coisas. Quanto maior a divisão da Atenção entre objetos, maior a perda de qualidade da Atenção dada a cada parte.
Há dois aspectos no ato de concentrar a Atenção: primeiro, escolher um tema no campo da consciência, e segundo, manter esse tema rigorosamente destacado, sem deixar-se desviar por influências do campo da consciência, modificando-o com plena liberdade. Assim sendo, tornando possível o funcionamento normal da capacidade de concentração.
Assim, o consciente é foco da atenção e os círculos concêntricos mais próximos simbolizam o subconsciente, enquanto que os círculos mais afastados simbolizam o inconsciente. Não existe entre essas regiões mentais uma delimitação nítida, são campos energéticos do psiquismo.
Carl Jung considera a focalização da atenção como elemento essencial da consciência, “como se um jato de luz focalizasse certo número de objetos”.
No nível mental, a luz simboliza a intensidade da atenção, a maior clareza dos processos intelectuais e o maior refinamento dos sentimentos. Na Doutrina Espírita, o maior desenvolvimento espiritual é expresso no mundo espiritual, em irradiação de luz. A qualidade predominante da atmosfera psíquica de Espíritos elevados é sua irradiação luminosa. Portanto, a faculdade da atenção vem a ser uma espécie de raio luminoso que forma a essência da consciência.
Afirma Carl Jung que “ninguém se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas sim tornando a escuridão consciente”. Tornar a ‘escuridão consciente’ significa uma tomada de consciência no que está armazenado nos porões do inconsciente. Isso seria o autoconhecimento, onde se volta à atenção para si mesmo, seus sentimentos, emoções, seus desejos e intenções, etc.
Assim, o caminho para a perfeição espiritual passa necessariamente pelo conhecimento de si, pela análise psicológica, desenvolvendo o emaranhado de ideias, sentimentos, impulsos, valores e ideais, além da dissolução das dívidas morais dessa e de outras existências, resultando em plena claridade mental, isento de qualquer defeito.
Eugen Bleuler, notável psiquiatra suíço, destaca duas qualidades da Atenção: a tenacidade e a vigilância.
A Tenacidade é a propriedade de manter a Atenção orientada de modo permanente em determinado sentido (concentração).
* Ao contrário, a falta de tenacidade é a dificuldade da Atenção em fixar-se.

A Vigilância é a possibilidade de desviar a atenção para um novo objeto, especialmente para um estímulo do meio exterior (desvio).

As técnicas de meditação procura desenvolver justamente essas qualidades como método de desenvolvimento espiritual. Tais técnicas são indutoras de um estado que predomina as ondas alfas, cuja característica física é o relaxamento, e mentais a serenidade, pré-sonolência, intuição, que são ondas indutoras do transe.
A prática da meditação é importante para o desenvolvimento das faculdades mediúnicas, onde a atenção focada leva a concentração, que desempenha papel fundamentas no transe mediúnico.

2. Concentração

Ao contrário da atenção, que é um ato passivo, de recepção de impressões ambientes, a concentração é um ato mental intensamente ativo, mediante o qual dirigimos nossa mente sobre certo ponto de interesse. Pressupõe, portanto, convergência de pensamentos para um determinado fim.
Na atenção as portas da mente se abrem para o mundo exterior; na concentração faz-se exatamente o contrário, ou seja, fecham-se essas portas, cortam-se as ligações dos sentidos com o ambiente externo, passando-se então a atuar inteiramente na intimidade da zona psíquica. Na concentração exercitamos a nossa vontade, fazendo recolhimento da mente para o nosso interior, isolando-nos das coisas exteriores que nos rodeiam, para iniciarmos a ligação com o mundo íntimo, psíquico, espiritual.
Diz Roque Jacinto no livro “Desenvolvimento Mediúnico”, cap. 25 que concentrar não é apenas cerrar os olhos, deixando que os pensamentos tomem os canais habituais a que estão condicionados.
Para que haja realmente concentração e, esta se faça sem desgastes, há algumas etapas no processo de concentração que são importantes. O primeiro é o relaxamento físico para liberação da musculatura e permitir um contato maior com níveis ampliados da consciência.
Seguindo ao relaxamento físico é imprescindível que haja um relaxamento mental. Entendemos por relaxamento mental o serenar dos pensamentos, o acalmar o fluxo, ir lentamente permitindo que a mente se liberte dos pensamentos costumeiros para se tornar "vazia", ou seja, abstrair.
 Os dicionários trazem como sinônimos para abstrair palavras como: distrair-se, alhear-se, separar, apartar. Todos estes significados de alguma forma se relacionam ao ato de abstrair. Realmente o que acontece no processo da abstração é um "distrair" a mente consciente que nos prende ao cotidiano, ao barulho do momento, ao dia a dia. Esta abstração vai levando a pessoa a alhear-se do aqui e agora, para que, com a consciência ampliada, possa alargar os horizontes de percepção numa separação gradual entre a mente consciente e a inconsciente.
Como fazer isso se estamos sempre pensando? Se pensamentos intrusos povoam nossa mente, principalmente quando não os queremos?
É preciso técnica e treino. Algumas técnicas ajudam nesta educação mental e com a continuidade o processo de abstrair se torna mais fácil.
Um cuidado é importante neste momento: nossa mente não deverá estar atenta ao que não deve fazer   ("vamos esquecer os problemas do dia", "não vamos agora lembrar  das dificuldades"), porque para saber o que não é para fazer ela precisa pensar primeiro no que são estas coisas e, portanto, já estará ligada a elas. Nossa mente deverá estar atenta ao objetivo, que é deixar a mente livre, aberta, limpa como uma tela em branco.
Existem várias técnicas. Podemos citar duas como exemplo. Uma delas é deixar a mente como se ela fosse um espelho. Todos os pensamentos que ocorrerem chegarão a este espelho e voltarão para donde vieram. Outra técnica é deixar a mente como se ela fosse um rio. Todos os pensamentos que surgirem deverão ser levados pela correnteza deste rio até que não haja mais nenhum.
Há ainda a possibilidade de se abrir a mente para sentir uma qualidade como: serenidade, bondade, calma etc. e em seguida "ser" a calma, a serenidade, a bondade, elevando desta forma o padrão mental, o que vai permitir a criação de uma atmosfera fluídica importante para o desenvolvimento de um trabalho mediúnico. Pode-se usar o recurso de projeção de uma imagem do Cristo, doce e consolador à beira de um lago ou no alto de um monte ou jardim, ou simplesmente, deambulando na sala irradiando e transmitindo paz e esperança. Assim, direcionando conscientemente as vibrações para os espíritos sofredores comunicantes.
Lentamente a mente vai ficando mais serena, sem pensamentos intrusos e já se pode passar a outra fase do processo que é a concentração.
Concentrar: Fazer convergir para um centro; reunir em um mesmo ponto; tornar-se mais denso, mais forte.
Concentração (Concentração): convergência.
Como a própria palavra diz, nesta fase do processo toda a ação mental vai estar concentrada em um objetivo. É importante que a mente esteja livre para então direcionar o pensamento para o objetivo que se deseja (sem esforço). Em relaxamento, o pensamento deve permanecer como se repousasse neste ponto, neste lugar, neste objetivo que se estabeleceu.
     À primeira vista pode parecer tarefa fácil, mas na verdade a mente, sem mesmo nos darmos conta está sempre ativa, isto porque "o Espírito jamais está inativo”. Se pararmos um pouco e fizermos uma observação perceberemos a velocidade, o ritmo e o encadeamento de nossos pensamentos. Dificilmente paramos para perceber este padrão, vamos pensando e pronto! Estes padrões de mudança contínua são difíceis de serem modificados. Como é difícil concentrar o pensamento em uma coisa só! Parece que o pensamento foge para outras tantas situações e quanto mais se esforça menos se consegue.
    É importante no processo não criar tensões e "obrigações". O pensamento deverá fluir numa direção e lá permanecer tranquilamente.  É importante também estar ciente que com o contínuo exercício tudo vai acontecendo de forma mais fácil e natural. O ponto de convergência dos pensamentos em um trabalho mediúnico é a elevação do padrão vibratório e a manutenção deste padrão durante o tempo de trabalho.
    A manutenção vibratória é fundamental para que o ambiente se mantenha pleno de elementos fluídicos, favorecendo desta forma o desenvolvimento dos trabalhos e o intercâmbio com o plano espiritual. A posição mental neste momento será para manter a concentração nos objetivos propostos para o trabalho, doação fluídica necessária aos atendimentos que se realizam, vibrações amorosas para os companheiros do grupo bem como para as entidades espirituais que  porventura estejam no recinto.
A mente poderá se manter como um foco de irradiação de pensamentos elevados que se modulam conforme a necessidade do momento.
Quando o processo da concentração e da manutenção vibratória vai se tornando natural pela prática contínua, ele não cansa, ao contrário, proporciona a quem o exercita um bem estar profundo.
Em o Livro dos Médiuns, item 204, Kardec coloca que para prática consciente e elevada da mediunidade, existem requisitos fundamentais.
 “ Mais importante (...) é a calma e o recolhimento que se deve ter, juntos a um desejo e uma vontade firme de êxito. E por vontade não entendemos aqui um desejo efêmero e inconsequente, a cada momento interrompido por outras preocupações, mas uma vontade séria, perseverante sustentada com firmeza, sem impaciência nem ansiedade. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e o afastamento de tudo o que possa provocar distrações.”
Assim, para Kardec a mediunidade, a capacidade de concentrar e a educação mental estão estreitamente relacionadas. Sintetizando o codificador recomenda para os médiuns:
o   Capacidade de Concentração;
o   Educação mental.
2.1. Capacidade de Concentração
Durante os trabalhos mediúnicos, é preciso saber concentrar, isolar a mente de todas as dispersões a que estamos habituados. Focar o pensamento no propósito de servir, fixando a emoção em Jesus, praticando o “Amai ao vosso próximo com a ti mesmo”.
Trata-se de uma disciplina mental, que deveríamos, aliás, praticar diariamente e não apenas na hora da prática mediúnica. Saber centrar e controlar os próprios pensamentos é conquista importante para o espírito. Mas, não é algo que se atinge facilmente. É preciso calma e persistência.
Assim sendo, há dois movimentos mentais distintos na sessão mediúnica:
a)      O direcionar o pensamento na prece, nas emissões de vibrações ou na projeção de imagens. (médiuns de sustentação, esclarecedor)
b)      O esvaziar a mente para permitir, que o espírito comunicante manifeste o seu pensamento. (médiuns ostensivos)
2.2. Educação mental
Os médiuns são alunos em crescimento espiritual, necessitando pautar seus trabalhos com os seguintes valores morais: disciplina, esforço e perseverança. São eles convocados, em primeiro lugar, a equilibrar-se a si mesmo, antes de se atirar ás tarefas no serviço mediúnico.
O esforço de autodisciplina é um processo longo e doloroso por vezes, pois nas lutas e dificuldades da vida, perseverar-se-á pelo equilíbrio mental e sentimental, cujas tentativas não poderão ser isoladas de quando em quando, deverá ser sistemático, de vontade firme, paciente, decidido e sempre verdadeiro consigo mesmo. Buscando nos modelos de transformação moral e reforma íntima, como nas personalidades de Paulo de Tarso, Maria de Magdala e Francisco de Assis, a inspiração para seu burilamento interno.
É fundamental na tarefa mediúnica, como na própria evolução de nós mesmos, a atenção devotada para a autoeducação de suas emoções e sentimentos, predispondo-se ao desejo sincero de aprender a corrigir-se, ser ativo e menos reativo ao meio e a pessoas, renovar sempre o pensamento e a emoção, seguir e da melhor forma possível, procurar agir como nosso modelo e mestre Jesus.
A educação intima que nos transforma se trata daquela que modifica os hábitos externos na eliminação dos vícios, como na alimentação, nas expressões sociais, no sexo, no consumo de bebidas alcoólicas, cigarro, outros.
Importante compreender, que disciplina para ser eficaz e renovadora não dispensa a visão espiritual proativa na autoanálise dos pensamentos e das emoções, com o conhecimento exato e profundo de nossas más tendências e maus hábitos. E assim, é primordial governar os impulsos instintivos e egóicos, o personalismo enraizado em nosso eu, nos esforçando por dominar com energia superior, a sombra densa de nosso espírito cristalizado em paixões desarmônicas de ordem moral e espiritual de vidas após vidas, que vivem e ressurgem dos subterrâneos da nossa inconsciência.
Portanto, sendo severos para com nossas faltas, e indulgentes e tolerantes com o próximo que apresenta a ignorância moral e espiritual em grau maior que o nosso. Se sinceramente desejamos melhorar a nós mesmos, fazendo com que nossa estrutura psíquica se enriqueça de novas luzes e alcance camadas superiores do pensamento e emoção, uniremos nosso pensamento com o Cristo, sendo seus instrumentos na humanidade.
É a autoeducação das emoções e sentimentos, a disciplina que ilumina e liberta a mente, proporcionando o desabrochar da consciência superior.
Temos á disposição recursos para auxiliar-nos acelerando o processo de autoeducação interna, como:
1.      Instrução;
2.      Autoconhecimento;
3.      Caridade.
O estudo é recurso que proporciona renovação mental dos clichês mentais e monoideias, que nos aprisionam, e pelo acúmulo de conhecimento, nos liberta da ignorância e proporciona segurança íntima.
No conhecimento de si mesmo, Santo Agostinho nos Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 919, ensina o meio “(...) Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogue-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedeste em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obraste alguma ação que não ousaríeis confessar.”
Carl Gustav Jung desenvolveu a expressão “sombra” para denominar tudo aquilo que somos, mas ignoramos ser. Esse termo, em psicologia, significa que tudo o que o homem não quer ser ou ver em si mesmo permanece oculto no seu inconsciente.
E somente quando reconhecermos e aceitarmos o que há em nós, tomarmos contato com nossas dificuldades e fragilidades existenciais, é que poderemos iniciar nossa real tarefa de transformação íntima. Além do mais, só conseguimos modificar aquilo que admitimos e vemos claramente em nós mesmos.
Portanto, são nossos sentimentos que nos dão conhecimento de nós mesmos, de como somos, no momento exato em que os vivenciamos. Eles revelam-nos, com detalhes minuciosos, como as coisas estão acontecendo conosco; por isso a importância de saber interpretá-los convenientemente. 
A Caridade sincera é a “chave da renovação” interior, é a “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas” (LE,questão 886) . A compaixão e a benevolência é um processo de verdadeira alquimia espiritual, essas são qualidades que transformam verdadeiramente.

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*Referências: Apostila COEM 2; A Imensidão dos sentidos, págs. 53 e 127; “Desenvolvimento Mediúnico”, Roque Jacinto, cap.25; “Psiquiatria e Mediunismo”, Leolpodo Balduino – cap. 2 ‘Natureza da Mente”.

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